terça-feira, 10 de abril de 2012

Entrevista com Médica Pediatra sobre ANENCEFALIA - Dra. Ana Paula Vecchi

No dia 11 de abril próximo, o STF votará a ADPF54 que poderá legalizar o aborto de fetos anencéfalos no Brasil. O Movimento Nacional da Cidadania pela Vida - Brasil sem Aborto vem fazendo manifestações e esclarecimentos necessários para que os ministros compreendam que estes não são fetos condenados, e que têm o direito à vida garantido pela constituição.

Para obetermos um embasamento médico científico, entrevistamos a Dra. Ana Paula Vecchi, pediatra e reumatologista pediatra formada pela USP, doutoranda pela mesma universidade, e atualmente coordenadora da enfermaria de pediatria do Hospital Materno Infantil de Goiânia, e reumatologista pediatra do Hospital da Criança também em Goiânia. Confira:

Comitê: Dra. Ana Paula, quando se fala em feto anencéfalo é correto afirmar que ele não possui cérebro, como a maioria da população acredita?

Dra. Ana Paula: Não, pois o termo anencefalia engloba um defeito congênito caracterizado pela ausência total ou parcial do encéfalo e da calota craniana, com grau variado de má formação. Crianças com essa desordem nascem com tronco cerebral, podem ter também cerebelo e algumas até uma pequena parte do encéfalo. Ou seja, não se trata de uma má formação "tudo ou nada" como se diz por aí.

Comitê: Sendo assim é incorreto quando vemos pessoas ou mesmo reportagens falando que o feto anencéfalo nascerá totalmente sem cérebro, não é mesmo? De acordo com sua explicação anterior, quais as chances de sobrevida de um feto anencéfalo?

Dra. Ana Paula: Cerca de 40% dos fetos anencefálicos morrem dentro do útero mesmo. Dos que nascem vivos 70% morrem nas primeiras 24 horas de vida. Alguns raros casos sobrevivem mais tempo, são aqueles em que o defeito não é tão crucial. Tivemos alguns casos brasileiros bem noticiados como o caso Marcela, e outros publicados em revistas médicas internacionais, como é o caso da menina com merocrania (um tipo de anencefalia) com 36 meses de vida, ou seja, 3 anos, publicado em 2011 por C.A.R. Funayama et al. na revista Brain e Development 33 (2011) p.86-89. Mais recentemente o caso Vitoria de Cristo que completou 2 anos neste feriado (abril/2012).

Comitê: Nesse caso percebe-se que existem vários graus de anencefalia e também vários graus de sobrevida, sendo que a cada dia surgem novos casos de crianças anencefalas vivendo mais de 2 anos de vida. Então, perguntamos: a anencefalia é fácil de se detectar?

Dra. Ana Paula: Um especialista experiente usando um exame de ultrasom de alta resolução pode detectar a anencefalia logo pela 10ª semana. Em circunstâncias não ideais contudo, a anencefalia pode não ser detectada ou excluída por um exame de ultrasom até a 16ª semana de gravidez.

Segundo o livro da AME BRASIL "A vida do anencéfalo", a sensibilidade da ultrassonografia de alta qualidade realizada por um profissional gabaritado é de 80 a 100%, ou seja, é um bom método para detecção do problema. Mas qual a sua especificidade? Qual é a chance de detectar pequenas partes do encéfalo e dessa criança ter a forma mais branda do defeito? No livro encontramos relatos de algumas famílias que tiveram o diagnóstico de anencefalia para os seus bebês intrautero, que nasceram normais ou com apenas uma hidrocefalia volumosa. Lembremos do caso Marcela que sobreviveu 2 anos. Só depois do seu falecimento, após uma junta médica de renome (que reuniu os melhores especialistas do Brasil) é que concluiram não tratar-se de uma anencéfala, mas apenas um defeito grave do sistema nervoso central. Mas eu pergunto: será que é tão fácil assim diagnosticar um feto anencéfalo? Então porque demoraram tanto para ver que não se tratava de um? A Marcela recebeu o diagnóstico de anencefalia na 20ª semana de gestação, quando ainda estava na "barriga" de sua mãe, e foi recomendado seu aborto. E hoje, após anos de exames, descobrimos que ela não era uma anencéfala! E quantos não poderão passar por essa mesma situação?

Comitê: E em Goiás? Existem casos de fetos anencéfalos com sobrevida acima do normal?

Dra. Ana Paula: Tivemos um caso no Hospital Materno Infantil, em 2008, que sobreviveu por 5 meses. Essa criança era a alegria de sua avó, que percebia um "psiquismo" no bebê e o interpretava com todo o seu amor. Temos também outro caso na Vila São Cotolengo, uma hidranencefalia, com mais de 1 ano de vida. São casos raros, sabemos. Mas existem!

Comitê: O que você acha sobre a ADPF54 que prevê a legalização de abortos em casos de gravidez anencefálicas?

Dra. Ana Paula: Decidir sobre a vida do outro é brincar de Deus! A vida começa na fecundação, e isto é muito claro para a ciência, estando conceituado nos melhores livros de genética do mundo. Se o feto tem um defeito genético ou não, não justifica sua eliminação! Falar que ele terá pouco tempo de vida, também não justifica. Ora, se um recém-nascido saudável adquirir uma infecção hospitalar grave, também poderá morrer em poucas horas! Uma mãe com uma gravidez de um feto normal poderá entrar em trabalho de parto prematuro e o feto falecer por imaturidade pulmonar (doença das membranas hialinas) em poucos dias. Um feto saudável não é garantia de sobrevida longa! Quem pode decidir quem vive e quem morre? Só quem nunca trabalhou com familiares de crianças com problemas congênitos pode dizer que é melhor para os pais o aborto, pois "evita sofrimento"! Os profissionais que pensam desta maneira não sabem como os pais vibram e comemoram cada conquista de seus pequenos, mesmo que essas seja apenas um simples bocejar... Estar com essas crianças, mesmo que por poucas horas após o seu nascimento, permite a eles encerrar um ciclo, vivenciar um luto! Em suas consciências fizeram tudo o que podiam, aproveitaram ao máximo a vida de seu filho! Já o aborto seria uma interrupção deste processo! Uma lacuna muitas vezes preenchida com o vazio. Nós profissionais da saúde deveríamos nos lembrar de todos esses aspectos emocionais, espirituais e religiosos dessas famílias antes de nos atermos somente ao fatalismo técnico. Antes de indicar um aborto de anencéfalo lembrar que a vida em geração é muito mais do que simples órgãos! Eliminar um anencéfalo é relembrar os absurdos realizados pelo nazismo!

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